Texto por:
Wendell P. Machado Cordovil
Não é dos dias de hoje que práticas vistas como “feitiçaria” para causar males para outras pessoas são relacionadas com religiosidades de matrizes africanas. O termo “macumba” é muito utilizado no Brasil para expressar com negatividade as religiões e práticas de grupos descendentes de povos dos diversos países africanos. Tudo ligado a essas religiões seria então “macumba”, que gera desconfiança na possibilidade de prejuízos dos mais diversos. Uma visão discriminatória, mas que não surgiu nos dias de hoje.
O termo “macumba”, que na realidade se refere a um instrumento de percussão, foi transformado em sinônimo de “feitiçaria” direcionada para a realização de alguma maldade. No senso comum, a “macumba” sempre estaria ligada com seres diabólicos e sacrifícios dos mais diversos animais. Em fontes históricas do século XIX essa mentalidade já é perceptível. Um exemplo é a notícia que teve espaço no Jornal do Commercio (RJ), 22 de julho p. 4, e no Jornal da Tarde (RJ), 21 de julho p. 1, no ano de 1877.
A notícia se tratava da detenção de dois sujeitos as 2h da madrugada do dia 21. O guarda da ronda encontrou com dois homens, Henrique Ananias Xavier e “o preto” Antonio. Chamados pelo Jornal do Commercio de “Carregadores nocturnos” , os dois levavam com eles 2 cabras e 7 galinhas. O guarda “rondante da rua”, rua do Riachuelo no Rio de Janeiro, questionou os homens sobre para onde levariam os animais. Henrique e Antonio afirmaram que os animais seriam entregues na casa de “Firmino de tal”, mais conhecido como “Macumba”.
Segundo o Jornal do Commercio, “A explicação não pareceu satisfazer os agentes da força publica, porque levou-os á presença da autoridade”. Para o Commercio a explicação não teria sido suficiente, mas para o Jornal da Tarde tinha sido mais que suficiente. Afinal, concordava que o apelido de “Macumba” já era “per si só muito bastante para despertar as mais fundadas suspeitas”. A detenção de ambos estaria correta.
Mas o que justifica “as mais fundadas suspeitas”? Um “preto” pelas duas da madrugada com cabras e galinhas? Estaria a caminho, teria pensado o sujeito que escreveu a nota, da realização de alguma “macumba”. O apelido de Firmino, “Macumba”, seria “muito bastante” para confirmar a situação. Para impedir os males da “macumba” eles deveriam ir para “a presença da autoridade”. Seria uma História Noturna no Império do Brasil, ocorrendo em noite qualquer do século XIX? Talvez então apenas sujeitos transportando animais para criação, ou alimentação. Não saberemos.
Referência:
Jornal do Commercio (RJ). Carregadores nocturnos. Ano 56, n. 202, 22 jul. 1877, p. 4.
Jornal da Tarde (RJ). Suspeito. Ano I, n. 117, 21 jul. 1877, p. 2.
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ResponderExcluirAgradeço.
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