Por: Elbia Cunha de Souza e Francicléia Ramos Pacheco.
Carlos
Correia Santos
Negra mente
Nego, grato, que sou negro ingrato
Amo-me por negro ser à luz do dia
Grito nagô gravado na garganta
Gratificantemente negro sem agonia
X.X.X
Sem culpas, nem grutas, negrume ao sol
Nem grades, nem grotesco
Negros textos sejam lidos no arrebol
X.X.X
Negras, negros, sejamos qual os gregos
Agreguemo-nos, guerreiros, em massa
Castro Alves nos espera na praça
Negrifique-se e faça-se grande
Nasça nessa nossa cor, pois ela é raça.
(Cadernos negros 21, p. 22).
Carlos Correia Santos é escritor paraense. Disponível em: http://www.letras.ufmg.br/literafro/autores/11-textos-dos-autores/679-carlos-correia-santos-negra-mente.
Acesso em 17 dez. 2020.
Chegamos ao Fim de Nossa Oficina,
espero que tenham gostados dos conteúdos e postagens, obrigada por terem
chegado até aqui, nesta parte da Oficina vamos contemplar um pouco do relatos
das crianças que residem na Comunidade remanescente quilombola Campo Verde, é
importante ressaltar que vivenciar a experiência da Escravidão fazia com que os
escravos aspirassem a Liberdade “Ver-se livre, isento do controle e da
subordinação a qualquer senhor foi o principal objetivo de muitos homens e
mulheres que, sozinhos ou em grupos, resolviam escapar da escravidão”
(ALBUQUERQUE/ FILHO 2006, p.118) assim surgiram os Quilombos como discutimos durante
essa Oficina, sendo uma forma de resistência e de luta pela liberdade, pela
saída do sistema escravista para vivenciar uma vida sem o controle dos grandes
senhores, uma vida longe das senzalas e da presença da chibata [1]e
dos castigos constantes.
É sempre muito importante conhecer os
conceitos históricos da temática no período em que estamos estudando, pois, com
o passar do tempo alguns termos vão se modificando por diversas razões acadêmicas
ou culturais. Como por exemplo o termo “Quilombo” que ganhou muitos
significados como: terras de preto, mocambos, comunidades negras rurais e/ou
urbanas e comunidade quilombola. E de acordo com o Decreto 4.887/03, os Quilombos são grupos étnico-raciais
segundo critérios de auto atribuição com trajetória histórica própria, dotados
de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra
relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.
Podemos destacar ainda o conceito das
autoras Wilma Coelho, Raquel Santos e Nazaré Silva (2015) que ressaltam que
As comunidades quilombolas se caracterizam pela prática do
sistema de uso comum de suas terras, concebidas por elas como um espaço
coletivo e indivisível que é ocupado e explorado por meio de regras consensuais
aos diversos grupos familiares que compõem as comunidades, cujas relações são
orientadas pela solidariedade e ajuda mútua. (COELHO, SANTOS, SILVA, 2015, p.
116)
Ilustrador: Antônio Carlos G. Damasceno Junior, 2020. |
Esses são apenas dois exemplos sobre o que é e como se caracterizam as Quilombos no século XXI, mas existem muitos outros importantes historiadores ampliam mais ainda esse conceito. E com certeza contribuem muito para compreender em grande medida a história de resistência, autonomia e conquistas quilombolas.
Queremos deixar aqui registrado a fala de três crianças que relataram em entrevista a Elizabete Trindade a importância de ser um quilombola e de pertencer a esse lugar. A primeira criança chama-se Geraldo Júnior, e ao ser interrogado sobre o que significava para ele morar no quilombo, o garoto respondeu o seguinte:
Elizabete Trindade:
O que significa morar no Quilombo pra ti?
Geraldo Júnior, 09 anos:
“Morar
no quilombo significa respeitar os mais velhos e me assumir como negro.”
A
segunda criança moradora do Quilombo de Campo Verde é a pequena Mariana Trindade,
também de 09 anos de idade, ao ser questionada sobre o que a comunidade
representa a menina dá a seguinte resposta:
Elizabete Trindade:
O que representa este lugar para você?
Mariana Silva da Trindade, 09 anos: “Representa minha realidade de vida e eu gosto porque nasci nesse lugar”
Já
a terceira criança, respondeu o seguinte a entrevista:
Elizabete Trindade:
O
que é ser Quilombola pra ti?
Tadeu Silva da Trindade, 11 anos: “É assumir sua identidade e sua cultura, de um povo e de sua raça e sua cor.”
Tadeu, por exemplo, já
demonstra o conhecimento sobre a importância da sua história, assumindo sua
identidade e a história de lutas de seus antepassados. A partir das entrevistas
foi possível observar a alegria e descontração em que as crianças responderam
ao falar de sua comunidade e identidade quilombola. Segundo Silva (2007, p.21):
“A afirmação da identidade contribui para que
a comunidade defina o seu futuro, desenvolva os seus projetos de vida no
território e fortaleça a sua cultura. É a identidade que afirma quem somos,
onde estamos, o que queremos, de forma a envolver as pessoas individualmente e
o grupo enquanto coletivo”.
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Ilustrador: Antônio Carlos G. Damasceno Junior, 2020 |
Um
elemento que não podemos separar das narrativas orais é a memória. Pois elas
registram acontecimentos, as vivências, experiências através das narrativas.
Para Halbwachs (2006, p. 69), a memória
individual expressa de certo modo a memória coletiva e que não é estática, pois
está condicionada e retrata o ambiente em que está inserida. Desse modo ao
contar uma história o narrador expressa a memória de seu povo.
Assim identificamos através da fala dessas
crianças como elas percebem o ambiente em que estão inseridas, as marcas de sua
história e o protagonismo que vivenciam no “Ser Quilombola” uma identidade que
traz consigo uma trajetória de lutas e conquistas. Suas memórias individuais
fazem parte de um Coletivo que ajudam a contar a sua história, narrando aquilo
que vivenciam no seu cotidiano, por isso torna-se importante conhecer esse
olhar da criança e ouvir seus relatos.
Ilustrador: Antônio Carlos G. Damasceno Junior, 2020. |
PARTE 1 - INICIO - OFICINA DE HISTÓRIA
BIBLIOGRAFIA
ALBUQUERQUE,
Wlamyra R. de; Uma história do negro no
Brasil. Wlamyra R. de Albuquerque, Walter Fraga Filho- Salvador: Centro de estudos Afro- Orientais, Brasília,
Fundação Cultural Palmares, 2006, p.118.
BRASIL.
Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Escolar Quilombola na Educação Básica: MEC/CNE/CEB. 2012.
COELHO, Wilma de Nazaré Baía; SANTOS,
Raquel Amorim dos; BARBOSA E SILVA, Rosângela Maria de Nazaré. Educação de Diversidades na Amazônia. Coleção
Formação de Professores & Relações Étnicos- Raciais. 2ª Ed. São Paulo:
Editora Livraria da Física, 2015.
HALBWACHS,
Maurice. A memória coletiva. São
Paulo: Centauro, 2006.
SILVA, Delma Josefa da. Educação Quilombola: um direito a ser
efetivado. Recife: Centro de Cultura Luiz Freire; Instituto Sumaúma, 2007.
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NOTAS
Nossos Agradecimento ao Ilustrador Antônio Carlos Garcia Damasceno Junior pelo Design e Arte Digital.
O
poema acima é do escritor paraense Carlos C. Santos, e encontra-se no site “Literafro”, essa e outras obras do escritor estão disponível no site bem como outros escritores e
escritoras.
Transcrição
de Entrevista realizada por Elbia Cunha e Francicléia Ramos.
Nossos sinceros agradecimentos pela participação e
contribuição as crianças residentes da comunidade quilombola Campo verde: Geraldo
Junior Souza, 09 anos; Mariana Silva da Trindade, 09 anos; e Tadeu Silva da
Trindade 11 anos.
As
entrevistas em campo realizadas por Elizabete Trindade no dia 21 de novembro de
2020, respeitou todas as orientações e normas de segurança e medidas sanitárias
vigente no país, bem como respeitando as orientações do ministério da saúde e
governo federal de distanciamento de 2 metros e evitar aglomerações, vale
mencionar que a mesma é moradora do quilombo e atua como agente comunitária de saúde,
portanto todas as medidas de segurança foram tomadas a fim de respeitar a saúde
e vida alheia. Nossos Agradecimentos a Bethe.
Essa Oficina de História fez parte do projeto de atividade de Estágio IV da faculdade de História, Os outros estágios ocorreram a fim de obter inicio a prática docente nas escolas, e essa em contato com a prática de oficina e profissão do historiador, a disciplina é ministrada com a turma de História de 2016 no Campus de Ananindeua/UFPA pela professora e historiadora Sidiana .
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FICHA TÉCNICA |
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Entrevistas, fotos, e coleta de dados |
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Roteiro de entrevistas, elaboração de posts para redes sociais e
texto blog |
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Apoio técnico, operacional e texto blog |
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Divulgação e texto redes sociais, texto blog, operacional,
planejamento e coordenação de oficina |
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Planejamento e coordenação de oficina |
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Edição e roteiro de arte, vídeo e áudio |
[1] Substantivo feminino. Vara flexível e
longa us. Para fustigar animais ou castigar pessoas (escravos, marinheiros). Disponível
em: https://www.google.com/search?q=chibata+significado&oq=chibata+significado&aqs=chrome..69i57j0i22i30l5j0i10i22i30l2.5911j1j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8
acessado em 16/12/2020 as 11:45pm.
Trabalho muito lindo, a importância de trabalhar a questão dos negros com crianças faz com que essas crianças desde sua infância va descobrindo o significado de ser negro e a importância da identidade, diante dos racistas que vemos precisamos mostrar para elas como se defender desses preconceituosos. Parabéns pelo trabalho
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