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Olimpíadas de História (2019) e Ensino de História em tempos de pandemia (2020-2021) - Entrevista com Professor Especialista Elias Santos de Brito

Entrevista realizada por

Wendell P. Machado Cordovil

Ananindeua é um município do Estado do Pará, região metropolitana de Belém, que por várias vezes já foi classificado como uma das cidades mais violentas do Brasil. Recentemente se calcula que políticas públicas reduziram significativamente os índices de violência da região, mas ainda há muito o que se fazer. A violência existente no município, e no Estado do Pará, as vezes toma a Escola como palco. Como no caso do Professor de Língua Portuguesa que sofreu um ataque com faca de um aluno em uma Escola pública municipal, no ano de 2019. Ser Professor nas Escolas brasileiras é de grande dificuldade, em regiões como Ananindeua essas dificuldades podem se tornar ainda mais evidentes. Como ensinar História dentro desse cenário?

Com a pandemia de Covid-19 os problemas para a Educação no Brasil aumentaram muito. Em regiões como Ananindeua, que possuem grande população em situação de extrema pobreza, falta de saneamento básico e altos índices de violência, a continuidade do processo educacional - e mesmo o retorno gradual para aulas - o cenário é emblemático para entender dificuldades no Ensino em períodos como o atual. Quais as dificuldades do Ensino de História para se adaptar ao atual momento? 

Para darmos atenção aos sujeitos que estão sempre mais próximos do processo formativo de nossas crianças e jovens, o Grupo Ananins entrevistou o Professor Historiador, Especialista em "Educação do Campo, Desenvolvimento e Sustentabilidade" (UFPA), Elias Santos de Brito. O docente ministra aulas na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Manoel Saturnino de Andrade Favacho. A Escola é localizada no bairro do PAAR, região que se desenvolve com o movimento de ocupação na década de 90 do século XX em áreas que a Companhia de Habitação (COHAB-PA) planejava a criação dos conjuntos Pará, Acre, Amazonas e Rondônia (P.A.A.R), em Ananindeua. Elias de Brito é um Professor muito interessado em pesquisa histórica e frequentemente está presente em eventos acadêmicos. Além disso, se empenhou em incentivar alunos a participarem das Olimpíadas de História. Como muitos outros Professores de História, enfrentou e está enfrentando as dificuldades do Ensino de História em momento de pandemia. A seguir é possível conferir as respostas do Professor Elias de Brito para as respostas levantadas pelo Grupo Ananins, sobre a participação na Olimpíada de História e a Educação na pandemia.

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Professor Elias Santos de Brito.

O senhor é professor de História em escolas públicas há quanto tempo? A Olimpíada de História é organizada pela UNICAMP desde 2009, quando o senhor tomou conhecimento dela?

Prof. Elias de Brito - Sou Professor da Rede Estadual há 14 anos. Fiquei sabendo da Olimpíada através do site da UNICAMP-SP.

Qual foi o interesse em construir uma equipe para participar da Olimpíada de História e como foi a seleção dos alunos que iriam participar? Quais foram selecionados?

Prof. Elias de Brito - O interesse foi inserir a Escola no circuito de competições nacionais. A seleção dos alunos(as) foi realizada por meio das notas na disciplina de História, bem como foi observado o nível de interação dos alunos com a interpretação de textos.

O retorno dos alunos que participaram foi bom?

Prof. Elias de Brito - Foi ótimo, porque sempre se mostraram motivados em participar de uma competição nacional.

Uma das etapas da Olimpíada que o senhor participou (2019) foi a construção de um verbete sobre “Os Excluídos da História”. Como foi a escolha do músico e artesão paraense, Félix Faccon, para ser o sujeito histórico do verbete?

Prof. Elias de Brito - A escolha de Félix Faccon deve-se a uma amizade de longos anos, pois meu ex-sogro (Antõnio Geraldo – flautista e compositor do Grupo Curimbó de Bolso) faz parte da banda de carimbó. entretanto, a luta dele (Felix) em manter as raízes do carimbó flertando com outros ritmos e batidas, chamou atenção para visibilizar autores anônimos que são excluídos da escrita da História, por isso a opção pelo artesão, cantor e compositor Féliz Faccon.

Primeiras páginas da produção da equipe do Professor Elias de Brito na Olimpíada de História de 2019. Os alunos que fizeram parte da equipe foram Gabriel Alves, Juan Martins e Jordan Lima.

A Coordenação da Escola apoiou e acompanhou a realização da Olimpíada? Existe incentivo da Coordenação para que os professores participem nesses eventos?

Prof. Elias de Brito - A Coordenação Pedagógica sempre incentivou esses projetos dentro da Escola, mas o acompanhamento traduz-se na motivação, pois a inscrição em participar das Olimpíadas, no caso de História, deve-se mais a iniciativa do professor.

A pandemia de Covid-19 está dificultando muito o Ensino, com professores precisando ministrar aulas virtuais, mas foi possível para o senhor participar da 13 a Olimpíada de História, que vai ter a final em agosto?

Prof. Elias de Brito - A pandemia dificultou bastante, pois, no caso das Olimpíadas os encontros presenciais são fundamentais para interação dos alunos, assim como para trabalharem coletivamente a escolha das alternativas corretas. e, a distância fica mais complexo trabalhar a interação e saber como o aluno está usando as ferramentas de pesquisas para identificar a opção correta.

Como ficou a relação professor-aluno nesse período de pandemia? As aulas virtuais estão sendo possíveis? Quais as maiores dificuldades para essa modalidade?

Prof. Elias de Brito - A interação ficou mais difícil por conta da relação Ensino-Aprendizagem dos alunos, pois cada aluno tem uma característica particular que precisa ser observada pelo professor para que possa planejar melhor as escolhas do conteúdo e avaliações. com as aulas virtuais a interação praticamente desapareceu por conta da comunicação precária, visto que uns tem uma boa internet, outros nem tanto e maioria nenhuma forma de uso da internet. nos espaços de sala de aula virtual é postada a atividade no grupo da turma e o professor faz algumas observações de como tem que ser feita a atividade. se o aluno responder corretamente a atividade o professor faz uma observação positiva, caso contrário, eu por exemplo: peço para o aluno refazer a atividade com algumas explicações até chegar a opção correta da atividade. Entretanto, essa mesma observação que faço para o aluno que usa o whatssap, não faço para aquele que não tem whatssap. ou seja, se gerou um desnivelamento dentro das turmas. visto que uns podem ser atendidos, mas outros que recebem as atividades impressas não têm interação com o professor. Quando entrega atividade na coordenação pedagógica a correção é única e não tem como refazer a atividade, isso o professor tem que observar na avaliação considerando as dificuldades que os alunos encontram para responder as atividades.

No Estado do Pará as aulas presenciais da rede Estadual retornaram no início de agosto – para algumas turmas. O senhor acredita que já é o momento de retornar? As condições de infraestrutura das escolas estão preparadas para receber os alunos nesse momento de pandemia?

Prof. Elias de Brito - O retorno, penso que deveria ser feito somente após vacinação de todos que fazem parte na escola. mas, o entendimento do Governo é outro. O retorno deve levar em consideração, imprescindivelmente, as regras sanitárias para que não venham surgir casos de contaminação e morte nas escolas.

Em sua visão quais os impactos que a pandemia ocasiona na formação Básica para alunos do Fundamental e Médio?

Prof. Elias de Brito - O impacto recai principalmente para os alunos e famílias de baixa renda que não podem de forma nenhuma acompanhar o ritmo das aulas virtuais. Criou-se um grande fosso dentro das escolas, onde os que são mais vulneráveis são as maiores vítimas de um sistema que não procura integrar os mais pobres à sociedade. O Estado para ser “ bondoso” aprova todos como forma de não usar políticas públicas que permitam que o aluno de baixa renda possa ter pacotes de dados que deveriam ser ofertados pelo Estado para acompanhar as aulas com celular, que também deveria ser doado aos alunos pobres.

Para terminar, como o senhor acredita que deve ser o Ensino de História pós-pandemia? Algo deve mudar?

Prof. Elias de Brito - O pós-pandemia tem implicado no ressurgimento de muitos ensinamentos, principalmente, para se pensar em métodos, conteúdos e avaliações mais integrados entre os professores das disciplinas nas Escolas. A pandemia fez com os professores tivessem uma aproximação, coisa pouco notada nas Escolas, onde cada um procurava fazer da sua maneira o que bem entendia sobre os conteúdos. Pelo menos é o que tenho observado: um aprendendo com o outro. Acredito que esse espírito coletivo que deve guiar o Ensino de História, quiçá, suplantando o individualismo de alguns colegas dentro das Escolas.

Professor Elias de Brito e seus alunos, membro da equipe para as Olimpíada de História 2019. Os alunos são: Gabriel Alves, Juan Martins e Jordan Lima. Foto presente na produção que realizaram em uma das etapas da Olimpíada. Disponível aqui.


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